quarta-feira, 16 de junho de 2010

Juro

que há dias em que não me reconheço. Ou então são apenas dias em que teimo serem diferentes de todos os outros. Talvez os dias não sejam diferentes e talvez tu não te vás embora. Nunca te vais embora. Enquanto eu me sento todos os dias à tua espera na mesma posição, um olhar perdido ou uma palavra esquecida, entre frases de letras construídas sempre da mesma forma; sempre de ti, sempre para ti. O vidro da janela que transparece um mundo lá fora, o espelho que apenas me reflecte a saudade de um tempo passado, o computador em que escrevo todos os dias o mesmo para ti; e os dias são iguais, só eu teimo em saltar da janela para o espelho e do espelho para o computador, como que aleatoriamente. Mas nunca é, sabes, nunca é aleatório porque a janela e o jardim lá fora fazem-me recordar do teu sorriso entre as árvores e o chilrear dos pássaros, e às vezes quase que juro que ainda te vejo de óculos postos e de andar descontraído, seduzindo-me; e corro até ao espelho só para confirmar se lhe chamo alucinação ou realidade, mas nunca, não reflecte mais a tua imagem ao lado da minha; e termino, todos os dias, neste computador, e já não sei se é ele que me obriga a escrever sempre o mesmo ou se sou eu que vivo numa rotina e todos os meus dias são iguais; embora teime em afirmar que são apenas dias, como que excepções. E depois não sei se o que sinto por ti ainda é apenas de dias ou se são sentimenos que perduram e que não se apagam nunca; não sei se se renovam em dias em que o jardim, a tempos de Verão, se cobre pelo sol. E me faz querer ir até lá fora. Juro, às vezes apetece-me correr até este jardim. Mas depois ponho um pé fora da porta e a chuva volta; e eu de cabelo molhado, confundindo lágrimas com gotas de chuva. E volto ao mesmo de sempre; ou volto a chamar-lhe de excepções e recomeço. Talvez me tenhas prendido num ciclo vicioso da qual não encontro a saída; se é que há saída.

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