que há dias em que não me reconheço. Ou então são apenas dias em que teimo serem diferentes de todos os outros. Talvez os dias não sejam diferentes e talvez tu não te vás embora. Nunca te vais embora. Enquanto eu me sento todos os dias à tua espera na mesma posição, um olhar perdido ou uma palavra esquecida, entre frases de letras construídas sempre da mesma forma; sempre de ti, sempre para ti. O vidro da janela que transparece um mundo lá fora, o espelho que apenas me reflecte a saudade de um tempo passado, o computador em que escrevo todos os dias o mesmo para ti; e os dias são iguais, só eu teimo em saltar da janela para o espelho e do espelho para o computador, como que aleatoriamente. Mas nunca é, sabes, nunca é aleatório porque a janela e o jardim lá fora fazem-me recordar do teu sorriso entre as árvores e o chilrear dos pássaros, e às vezes quase que juro que ainda te vejo de óculos postos e de andar descontraído, seduzindo-me; e corro até ao espelho só para confirmar se lhe chamo alucinação ou realidade, mas nunca, não reflecte mais a tua imagem ao lado da minha; e termino, todos os dias, neste computador, e já não sei se é ele que me obriga a escrever sempre o mesmo ou se sou eu que vivo numa rotina e todos os meus dias são iguais; embora teime em afirmar que são apenas dias, como que excepções. E depois não sei se o que sinto por ti ainda é apenas de dias ou se são sentimenos que perduram e que não se apagam nunca; não sei se se renovam em dias em que o jardim, a tempos de Verão, se cobre pelo sol. E me faz querer ir até lá fora. Juro, às vezes apetece-me correr até este jardim. Mas depois ponho um pé fora da porta e a chuva volta; e eu de cabelo molhado, confundindo lágrimas com gotas de chuva. E volto ao mesmo de sempre; ou volto a chamar-lhe de excepções e recomeço. Talvez me tenhas prendido num ciclo vicioso da qual não encontro a saída; se é que há saída.
Sem comentários:
Enviar um comentário