terça-feira, 27 de julho de 2010

unreadable

Sinto falta dos teus beijos postos em palavras, dessa junção de letras com que costumavas beijar-me a pele. Às vezes ainda te pressinto a escrita, como se ainda me dirigisses essas cartas que nunca cheguei verdadeiramente a ler. "Devagarinho", dizias, e mostravas-me aos poucos, um pedacinho de cada vez, frase a frase e depois parágrafo a parágrafo até eu te implorar. Já sem forças voltavas a abrir o envelope, e como se te carregasse a vida deixavas-me dar uma olhadela rápida. Não querias que te decorasse, preferias surpreender-me com textos imprevistos e momentos fortuitos. Cheguei a acreditar que tinhas poder sobre as palavras, porque as usavas tão facilmente, combinando-as entre si como se se encaixassem realmente, e dominavas a técnica de as desenhar sobre mim, porque juro que ainda sinto a tua mão nas minhas costas empunhando a caneta, delineando cada letra na perfeição. Vai-se desvanecendo aos poucos, sabes, a tinta que em tempos deixaste gravada no meu coração, e é com dificuldade que ainda te recordo a voz com que me lias. Mas não desaparece, indelével e permanente, apenas se torna ilegível.

2 comentários:

Jane disse...

Perfeito :-)

nés, disse...

não gostei deste texto porque este texto mexeu demasiado comigo. és má! falando a sério, está muito intimista, e eu gosto tanto disso..
sim, tenho mesmo catorze anos x) muito obrigada!