quarta-feira, 11 de agosto de 2010

New Heart


- Conta-me. O que te vai no coração para te ver no olhar tamanho desespero?
- Sinto que acabou de fugir-me.
- Quem?
- O coração. Não o sinto mais no peito, como se de repente deixasse de existir espaço para ele.
- Disparates. O que te mantém viva então?
- Olha. Sente aqui, está vazio mas continuo a sentir latejos, e repara como são cada vez mais velozes. Acho que enlouqueceram, agora que não pertencem mais a sítio algum. E sabes? Magoam-me, parece que me dão pontapés no peito, talvez também eles queiram fugir-me, talvez pensem que não os mereço. Ganharam vida subitamente, consideram-se independentes. E sinto na garganta um nó... achas que o meu coração não me fugiu, mas apenas se desfez? Se calhar o nó na garganta são pedaços dele, sentimentos que deixou perdidos ao acaso. Que faço com eles? Não creio que a solução seja deitá-los fora, parece-me cruel e além disso acho que não serei capaz. Espalharam-se-me pelo corpo, como doenças que se multiplicam e me consomem a energia. Terei de arranjar um coração novo que possa suportá-los, e mais, que consiga também criar emoções novas e sensações novas. Acho que a culpa é minha, habituei-me a lidar apenas com coisas velhas e experiências cansadas. Não me olhes assim, a culpa também é tua, já que não me largas o pensamento durante dia algum desde que decidiste contrariar-me a razão.

2 comentários:

Jane disse...

Eu dou-te um bocadinho do meu, pode ser?

Samantha disse...

Nunca disseste nada tão bonito, Jane :-) até te oferecia um bocadinho da minha cidade, mas parece que quanto a isso não posso fazer nada, só quanto ao café =P